Eu lhe acuso, natureza De azular os amarelos Aguçar o mel dos cios Apurar a flor do ópio Só pra me botar nos olhos Este alumbramento aflito Que acomete os degredados Sob a cúpula dos astros Eu lhe acuso, natureza De me acorrentar em ciclos Pra me semear de novo Tantos vícios esvaídos De me encandear de sono Qual lacaio, qual escravo Pra sovar minha caveira Com pilões de lua e lírios Natureza, natureza Grande Mãe inviolável Cujo reino é vasto exílio Eu lhe acuso e me desgarro De seus vermes, de meus ídolos Esconjuro os seus desígnios Sobre a minha liberdade Eu recuso, natureza Esse gozo, esse delito Eu mordia o seio farto A carne, a cana e o salitre E morria miserável E mal distinguia a vida Entre mil formas larvares E um rosário de delírios Mas enfim largo esse fardo No seu chão, e nele sigo Tendo assim transfigurado O calvário do destino