Queiram prestar-me atenção A saber, tinha uma dona Que morava naquelas matas nas margens do Amazonas Tinha uma filha que perdeu-se naquelas breves colônias Perdeu-se nas matas brutas e ali, ao romper da aurora Sujeita a caboclos bravos e queixada e caipora Carapanã, onça-tigre, jacaré e jibóia Com idade de sete anos perdeu-se essa criancinha Da altura de um carneiro, simpática e modestinha Era alva como a neve, inocente e bonitinha Quando sentiram falta no fazer de um café Chamou sua filha e não viu e correu todo o igarapé Valeu-se do Pai Eterno e de Jesus de Nazaré Quanto mais ela corria, mais promessa ela fazia E a menina se encantava pelas matas e sumia Concluía que os caboclos já a adotavam como filha Quando completou um mês ela perdeu toda a fé Entregou a sua filha a Jesus de Nazaré E aos cuidados do Pai Eterno que é o autor da sua fé Quando completou um ano ela perdeu toda esperança Um dia de manhãzinha fez um café sem lembrança Quando viu entrar na porta, de repente, uma criança Ela quis se assustar quando a criancinha disse Sorrindo, bença mamãe, cadê papai mais a titia? Ela correu e a abraçou, meu Deus chegou a minha filha! Oh, minha filha querida, por onde andaste assim? Tanto tempo nestas matas, como não levaste fim Dentro desses igarapés, entre cobras e espinhos? Ela disse: Mamãe, eu andava mais um velhinho Que me dava de comer e eu chamava ele "padrinho" Ele hoje veio me deixar e dali me amostrou o caminho Minha filha, quem é este? Ela não soube dizer Na casa do retratista quero mandar te escrever Depois vamos na cidade uma promessa fazer Andei um ano ou mais pegando chuva e sereno Comendo cru, sem sal, erva de todo veneno Dentro desses igarapés meus sofrimentos foram imensos Parece que Deus andava mais essa triste inocente Brincava mais as queixadas que ali trazia o alimento Montava na onça-tigre e dormia mais a serpente Depois do retrato tirado ela embarcou e seguiu E chegando na cidade, à Matriz se dirigiu Colocou no alto o retrato. Muitos que lá foram ver Quando a menina entrou e que Jesus Cristo reviu Mamãe, esse é meu padrinho, o velhinho que andava mais eu Quanto mais ela rogava, quanto era o poder de Deus Entreguei a minha filha ao Deus vivo e poderoso Hoje celebro com alegria e gratidão o seu retorno E no meu peito guardo a fé no Deus misericordioso Quem ouvir esta história, eu peço sua atenção Tenha muita fé em Deus e na sua proteção Me despeço neste momento com toda minha gratidão!