Teodoro e Sampaio

Saco de Estopa

Teodoro e Sampaio


Um saco de estopa com embira amarrado
Eu tenho guardado a minha paixão
Uma bota velha, chapéu cor de ouro, bainha de couro e um velho facão
Tenho um par de esporas, uma arreio e um laço
Um punhal de aço, rabo de tatu, tenho uma guaiaca ainda perfeita
Caprichada e feita, só de couro cru

Do lampião quebrado só resta o paviu
Pra lembrar o frio eu também guardei um pelego branco
Que perdeu o pelo apesar do zelo com que eu lhe dei
Também um cachimbo de cano Colombo
Quantos pernilongos com ele espantei
Um estribo esquerdo que eu guardei com jeito
Porque o direito na cerca eu quebrei

A nota fiscal já toda amarela
Da primeira sela que eu mesmo comprei
Lá em soliedá, na casa da cinta, 230 na hora eu paguei
Também o recibo já todo amassado
Primeiro ordenado que eu faturei
É a minha traia num saco amarrado
Num canto encostado que eu sempre guardei

Pra mim representa um belo passado
A lida de gado que eu sempre gostei
Assim enfrentado um trabalho duro
Eu fiz o futuro sem violar a lei
O saco é relíquia com os seus apetrechos
Não vendo e nem deixo ninguém por a mão
Nos trancos da vida agüentei entacto
E o ouro do saco é a recordação