Se for antes do sol para acordá-lo, sou galo Se o horizonte me quer a cavalgá-lo cavalo Se perdôo no riso da manhã, sou vôo de arara, jaó e jaçanã Quando vivo esse fogo em que me ardo, leopardo Quando sei do meu ser, mata fechada, pintada Sou tigre de bengala na mão do luar Quando em pé, não me engana, eu sou suçuarana Se me zango e apronto o desacato, sou gato Acho jóias na lama onde alucino, suíno Se me rendo nas penas da paixão, pavão Se me nego, sou pato Se enfrento sou leão Mas se com as folhas eu curo as mazelas, sou gazela Se do alto o espaço é o abraço do chão, cabrito Se na entrega meu ser aflora inteiro, carneiro No poder das ervas, é tudo mais bonito Tira a roupa e fica a prontidão Tira teima e fica nua em pêlo Tira o lixo da gente fica o bicho Tudo é bicho escondido em baixo do cabelo Se no uivo sou loba, no silêncio raposa Se na febre sou lebre, sou a fêmea que goza Se na farra cigarra, na luz mariposa Sou bicho sou toda, sou muito mais formosa Se o clarão vem de lambuja, coruja Se o oásis é o Dom de antevê-lo, camelo Se a luz do cristal fluir, me deixe, sou peixe Tudo é bicho escondido em baixo do cabelo