Meu medo é o campo que já não floresce É uma semente que já não germina É uma vertente de que não se bebe É o que se atreve a nos passar por cima Meu medo é o medo do animal aflito Quando a rapina lhe ameaça a cria É um entrever de um verso em rima pobre Comprometendo os rumos da poesia Meu medo é a mata que foi derrubada É uma criança que não foi parida É a primavera que não tem mais sol É um rio que corre sem levar a vida Meu medo é o medo da figueira grande Quando o machado lhe ameaça a queda É um entrever de um tempo sem poesia Pras melodias de quem não se entrega Meu medo é o moço que já não escuta É o que falece a geração dos meus Meu medo é o medo dos que já não comem Meu medo é o homem que esqueceu de Deus