Imyra, Tayra, Ipy Primeira cena: o nascer Do beijo de Ara rendy Jemopotyr - florecer É gema, é germe, é gen-luz Imyra brilha no ar Corou vermelho e azul Por sobre o virgem rosar É rosa gente, é razão É rosa umbilical Jukira, sal, criação Potyra, flor-animal Imyra, Tayra, Ipy Segunda cena: crescer Ferir o espaço e abrir A flor primal de mulher Figura, cor, rotação Calor, janela, pombal Palmeira, morro, capim Moreno, ponte, areal Retina, boca, prazer Compasso, ventre, casal Descanso, livre lazer Loucura, vida real Imyra, Tayra, Ipy Terceira cena: saber Que o índio que vive em ti É o lado mago em teu ser Se vim dos Camaiurá Ou das missões, guarani Nasci pr'a ti meu lugar Nação doente, Tupi Por isso vou me curar Da algema dentro de mim Por isso vou encontrar A gema dentro de mim Imyra, Tayra, Ipy A quarta cena é mostrar O que há de pedra no chão O que há de podre no ar Criança em frente ao pilar Imaginando seu mar O mastro imenso, o navio A vela, o vento, o assobio É caravela, é alto-mar Até de novo acordar Pr'o que há de podre no chão Pr'o que há de pedra no ar Imyra, Tayra, Ipy A quinta cena é sofrer Cunhã curvada a chorar Tayra tensa a temer Fui companheira dos sós Fui protetora das leis Fui braço amigo de avós Até o rei perdoei Hoje faminta sou ré Como um cachorro vadio Arrasto inchado o meu pé Por chãos de fogo e de frio Imyra, Tayra, Ipy A sexta cena é esperar No céu branqueia Jacy Tatá verdeja no mar Vislumbre claro, visão Valei-me, meu pai! Que luz! Como se um trecho de chão Se erguesse em asas azuis Dobrando a curva do céu Pr'a mergulhar sobre o mal E o justo império de Ipy Chegasse ao mundo, afinal! Imyra, Tayra, Ipy A cena sete é um saci Pé dentro do ano dois mil No centro - sol do Brasil Aos sete dias do mês Um dia azul de leão Me deram vida vocês Dou vida hoje à expressão Quero essa língua outra vez Quero esse palco, esse chão Brinca Tupi-português Dentro do meu coração