Há muitos anos atrás No interior que fui criado Fui um dos melhor peão Que existiu praqueles lados Numa daquelas fazendas Aonde eu fui empregado Amestrei um potro preto Que para lidar com gado Como rei das invernadas Ele foi considerado... Certo dia no mangueiro Eu estava distraído Um mestiço traiçoeiro Me pegou desprevenido Se não fosse o potro preto Hoje eu era falecido Como um raio ele enfrentou O mestiço enfurecido Mas eu fiquei um homem imprestável E dali fui despedido... No lombo desse potranco Fiz proezas importantes Mas no mundo meus amigos Nossa vida é um instante Hoje velho e acabado Igual um mendigo errante Fui rever a minha terra Pra lembrar os tempos de dante E vi uma triste passagem Que me fez chorar bastante... Lá no matadouro da vila Eu vi o rei da invernada De caminho para o corte Por já não valer mais nada Eu chamei ele pelo nome Com a alma amargurada Ele ainda relinchou De cabeça levantada Parece até que relembrou A nossa vida já passada... Sem nada poder fazer Praquele que me salvou Meus olhos viram chorando Quando ele no chão tombou As vezes chego a pensar Que não existe mais amor Como pode um homem rico Que não tem mais aonde por Vender pro corte um animal Que tanto serviço prestou...