Um corpo cansado e velho chega em casa Dá um suspiro e acende a luz da sala Não desprende uma fala não é maluco A cara toda amarrada dizem que ele tá caduco Só com a luz do abajur com o corpo todo no escuro Com os olhos mirando o nada, brilho no futuro Silencio Chave no criado mudo Dava pra ouvir o coração batendo e tudo Copo largado do lado direito dele Peito pesado e pensando no filho que ele não teve A velha vitrola bem a sua frente a trinta anos Mas hoje já vê com olhos diferentes Meio que de repente todas as coisas mudaram o tempo foi um presente que deram depois tomaram Levaram as forças poucas, forças que ainda tinha Não podia encarar, mas tava certo que ela vinha Sentindo umas dores sobre o braço Uma tontura muito estranha e um puta cansaço Boto o vídeo do Quincy Jones pra lembrar dos compassos Se viu no mundo das lembranças entre o tempo e o espaço Surgi então na sua frente ela é fria como o aço Confesso, se é comigo eu nem sei o que faço Alcançou em cima do móvel o ultimo do maço Acordou do outro lado sem nem dar mais um passo É só um velho na poltrona à meia-luz do abajur Escutando seu vinil que traz as melhores lembranças O velho na poltrona, a luz do abajur E o vinil que traz as melhores lembranças Atrasada, um belo dia, ela lhe, visitou E viu tudo, que já fez, e que a vida, ensinou [2x] Sozinho, largado, ninguém do seu lado E cheio de doenças se depender do estado Aos 70, afastado do oficio de sociólogo Sua vida foi um eterno monólogo Entre discos e livros, pensamentos nocivos Seus sonhos aos 60 já não tavam mais vivos Dez anos de decadência, perderam a essência Cada dia que passava bebia com mais frequência A eloquência sumira um pouco antes Seu vigor foi embora e mesmo assim ele não chora por amantes desde os 45 Seja o que Deus quiser, pois já não vive com afinco. Mente obscura em meio a luz acesa Vários pensamentos sobre a única certeza Um caminho certo que te levava pra longe Chegava mais perto e nisso meditava como monge Será que é desse jeito que eu acabo Em meus aposentos velho só e aposentado Queria ser lembrado por aqueles anos que tinha Confiança na esperança que o diploma mantinha E assim vinha criando planos Zuando no colégio cometendo acertos e enganos Ele e ela se encontraram no seu primeiro beijo Teve a noite inesquecível que conheceu o desejo Atrasada, um belo dia, ela lhe, visitou E viu tudo, que já fez, e que a vida, ensinou [2x] Nos 40 a vida se aparenta estranha Só a solidão acompanha, muito se faz pouco se ganha Pra uma condição que atenha e se recolhe E partir daí na poltrona se encolhe Pensava no triste quadro que a realidade pinta Diferente de quando ele tinha 30 Quando restava energia pra superar Todo aquele passado que vinha lhe visitar Aos 20 lia nos muros "Abaixo a Ditadura" Exilavam muitos que exaltavam cultura Contra a opressão e a tortura Período da história que se vivia na mira da amargura Mas lembra a doçura dos anos anteriores Tempos de mais alegrias e menos dores Pequeno pela casa de gigantes Corredores inocentes brincando era o maior dos sonhadores Memória completa, tudo ela coleta Você aos 11 de idade aprendendo a andar de bicicleta Com seu pai no parque, muito antes do baque Memórias tão perdidas você nem sabe como sabe Tu só lembra, parece que o portão se abre Memória é um universo, dentro dela tudo cabe Seja pro bem ou pro mal você lembra de tal Lembra melhor que ninguém, de quando você tinha alguém Que te deu o melhor presente no seu grande natal Que ensinou a jogar poker e batalha naval. Quando vai chegando ao fim começa a mandar a ânsia E a ver momentos lindos com seus amigos de infância E agora é um velho na poltrona à meia-luz do abajur Escutando seu vinil que traz as melhores lembranças O velho na poltrona, a luz do abajur E o vinil que traz as melhores lembranças Atrasada, um belo dia, ela lhe, visitou E viu tudo, que já fez, e que a vida, ensinou [2x]