Enquanto o zaino tranqueia, recorro a velha invernada
Onde as ladeiras dos cerros são madrinhas da canhada
Lugar em que a chuva mansa teve um dia por morada
Um lagoão de água boa, remanso, vida e mais nada

Por tanto tempo molhara o último fio do alambrado
Se hoje não mais lhe toca e guarda cascos marcados
É porque a chuva andarilha prendeu vôo e foi-se embora
Talvez só Deus saiba ao certo onde fez querência agora

Dos mansos da minha encilha foste um resojo às soleiras
Tanto cansaço quedou-se maneado em tuas boiadeiras
De fato estranho não tê-lo, guardavas tanto respeito
Que eu cruzava erguendo as botas e os pingos de água no peito

Sempre que passo recordo o mormaço e o ar parado
Bordando na água um espelho e um lindo céu estampado
Como se a mão la de cima no seu adorno qualquer
Bordasse um pañuelo azul com nuvem, sol e aguapé

Se o barro ainda põe vida riscando a imagem do verde
Não muito adiante resseca e racha a terra de sede
Resiste apenas um charco adonde a vida se agarra
Na teimosia dos juntos e grama que não se desgarra

E resta agora a esperança que algum trompasso de agosto
Mangueie a chuva por diante de volta pro mesmo posto
Nem que por mais de semana tranqueia a lida emponchada
Quero pontear do outro lado com as barrigueira encharcada

Cookie Consent

This website uses cookies or similar technologies, to enhance your browsing experience and provide personalized recommendations. By continuing to use our website, you agree to our Privacy Policy