Lá na casa dos meus pais Tinha um velho ingazeiro Que um dia foi derrubado Pra divisão do terreiro Minha mãe plantou uma muda Num pedacinho de chão E cuidava da plantinha Com zelo e dedicação Um dia fez um pedido Que aquela muda me deu Dizendo, filho adorado Trate dela com cuidado Pra lembrar dos dias meus No quintal da minha casa Numa manhã de janeiro Com minha filha mais velha Eu plantei o ingazeiro Disse a ela, sua sombra Vai nos servir de abrigo Pra valsa dos quinze anos Que eu quero dançar contigo Todos os dias eu molhava Aquele pequeno arbusto Longos anos esperamos Até que um dia dançamos Na sombra do ingá robusto O tempo passa depressa E às vezes nos apavora Fico refletindo quanto O ingá representa agora Rodeado de outras plantas No quintal reina altaneiro Dando abrigo aos poetas E as rodas de violeiros Lá do alto assiste as festas E os nossos dias de glória Quando o povo está presente Até parece que sente Que faz parte dessa história Hoje eu fico recordando O pequeno pé de ingá Que ao crescer junto comigo Viu minha vida passar Os raios de Sol se filtram Pelos galhos encorpados E vem secar os meus olhos Tristonhos e marejados São lágrimas de saudade Que brotam do pensamento Ao lado deste ingazeiro Vi passar tantos janeiros Levado nas mãos do vento Na vida nada é eterno Nem tudo é só alegria Pra minha filha hoje eu peço Igual mamãe fez um dia Junto com meu pé de ingá Eu desejo ser lembrado Por favor, plante uma muda Aonde eu for sepultado Seus galhos vão me embalar Durante o sono profundo Quero a sombra e o abrigo Do meu ingazeiro amigo Quando eu partir deste mundo