Eu vou contar uma história Publicada nos jornais Dentro de uma mata virgem Lá no sertão de Goiás Regulava meia noite Quando via os sinais Um berrante repicando E o grito do capataz Um caboclo ali passava Quando ouvia os tristes ais O seu corpo arrepiou Porque o medo foi demais Boiadeiro a meia noite Não existe em Goiás E dentro de poucos dias A notícia esparramou Um homem sem religião Deste fato duvidou Foi dormir dentro da mata Pra mostrar o seu valor Quando foi a meia noite Um berrante repicou Ele tentou a correr Mas seu corpo bambeou Chegou uma voz e disse - Meu amigo aqui estou O que eu passei na vida Vou contar para o senhor A muitos anos atrás Eu era um boiadeiro Que transportava o meu gado Por este chão brasileiro Por maldade e covardia O meu falso companheiro Que tirou a minha vida Pra roubar o meu dinheiro Me deixou dentro da mata Bem pertinho de um cruzeiro Onde eu toco o meu berrante Relembrando os companheiros Não esqueço um só momento A ingrata solidão Em ter deixado os meus filhinhos Na mais triste judiação Amigo, mil vezes lhe peço perdão Duvidei deste teu fato Por eu não ter religião Me contaste e tua história Cumpriste sua obrigação Vou dizer para teus filhos Que tu ganhou a salvação Vou deixar meus companheiros E as matas de Goiás Eu vou viver lá no céu Bem juntinho dos meus pais Berrante da meia noite Agora não toca mais Berrante da meia noite Agora não toca mais