Nunca pensei que eu veria e vi no jornal, mas não cola Carcará na gaiola sem fazer o que faria Tá preso, mas eu queria saber por que foi trancado Perguntei desconfiado, disseram com má vontade Aquele ali na verdade nem era pra ter voado E eu perguntei como assim, o que seu bico rasgou Ou sua garra arranhou algum pet no jardim O que ele fez de ruim? A quem ele incomodou? Ou foi o Sol que aumentou a sombra da sua asa Se foi assim, em qual casa sua sombra assombrou? Como será que controla sua força e energia Vivendo de noite a dia trancado numa gaiola Feita de arame, de mola, talisca, madeira e lata E ouvindo a turma gaiata dizendo na cara dura Você preso a gente atura e você solto a gente mata Os homens que lhe prenderam lhe venderam por trocados São como ratos molhados que na fartura cresceram Comemoram que venceram mas dormem mal de pensar Se ele um dia se soltar que força ainda vai ter O que vai querer fazer e pra que lado vai voar Olhando o tempo passar carcará soa e não caça Mas eu sei que o tempo passa e o dia há de chegar De alguém vir me avisar carcará mandou recado Está mais velho e mais cansado e a voz mais rouca e mais feio Saiu pra dar um passeio, tá todo mundo assombrado