Chuva vindo no horizonte, parece uma procissão Aonde o bispo, o trovão, celebra a missa no monte O vento vanda de fronte, comandando a irmandade E o granizo é um abade, e o relâmpago é um cajado Que ampara o passo pesado do trovão na tempestade Uma friagem baliza como quem procura espaço E o vento estende seu braço pra dar empurrão na brisa E o céu veste uma camisa pra se proteger do frio E a terra no calafrio fica esperando a zuada Que a bomba da trovoada encurtou muito pavil Se apressa tripulação do avião na ventania Esbarrão na correria, os galhos secos no chão Sem passaporte na mão, as folhas vão viajar E os urubus vão voar, cada um se perguntando Quem é que vive soprando pra o vento poder ventar? Guardando as águas no céu, a nuvem é como uma esponja Também parece uma monja andando de carrossel A nuvem é como um pincel, e o céu azul como a terra Quando a nuvem se encapela, guarda relâmpago e trovão Só não sei quem bota a mão pra espremer água dela Quem vestiu no vento a luva que empurra as nuvens no ar? Quem pudera me explicar como é que a nuvem de chuva chora como uma viúva toda vez que o trovão berra Só sei que ela nunca erra, mesmo tendo a mão canhota E atira gota por gota da água que tem na terra O sol atira uma flecha e desata o nó do novelo A nuvem ajeita o cabelo e pinta de ouro uma mecha Andorinha acha uma brecha e torna a voar novamente E o temporal lentamente, vai se estender mais além Fazendo estrondo igual quem anda arrastando corrente