Um dia o que era vida Tombou por conta do vento Depois ergueu-se na fé Das mãos pedindo um lamento. Nasceram todos da terra E pra ela vão voltar Tão simples como ela própria No seu modo de criar. A simples folha que cai Num gesto que a vida tem É uma entrega desmedida Sem ofertar-se a ninguém. Velando a paz da partida Madeira formou-se cruz Sem iniciais e nem datas Somente um facho de luz. É a vida que sobe aos céus Num ciclo que não se encerra A alma partiu mais cedo E o corpo mesclou-se a terra. As flores um dia vieram Da terra fértil pra perto Receber os dois barreiros Na cruz de braços abertos. Da terra compôs-se a casa Sobre a madeira esculpida À luz da simplicidade Com asas que tem a vida. Só as almas sobrevivem Para um dia retornar Noutra vida, noutro corpo Num Deus que soube criar. Pois sei que a vida renasce Nos rumos que ela conduz Que um joão-de-barro fez casa No braço esquerdo da cruz.