Na porta que tá de azul Passei mil veiz pro meu quintal Meu chapéu é meu escudo Minha bengala, meu punhal Assim foi e assim tem que ser Até o mundo se acabar Pro antes de eu morrer, seu moço Vem outro no meu lugar... Santo Reis Eu sou filho de Zé Sabino Abre a porta pro Deus Menino Santo Reis chegou pra anunciar Eu piso nesse chão Desde o tempo do chicote Sina de nego fujão Era só canga, ferro e morte E a cada geração vem um Fila da puta aqui pra me roubar Vem ladino, vem traíra Vem comendo pelas beira Se esgueirando, cavucando Revirando a terra inteira Mas é a minha pena que escreve A história desse lugar Eu sou filho de Zé Sabino Abre a porta pro Deus Menino Santo Reis chegou pra anunciar Sou do tempo da estrela que ilumina Tenho a idade do grão que já foi monte Vi nascer e descer limpa da fonte Essa água que hoje contamina Escrevi nessa terra a minha sina Na pisada dos filhos que criei Em cada palmo de chão que pisei Hoje passa safado e ladrão Mas a dor nunca seca o coração Pois abaixo de Deus é Santo Reis