Clementina, mãe Kelé, canta o seu canto nagô. Do Rosário dos Pretos bate o tambor, afoxé. Donga pelo telefone manda um samba em Guiné. Muita bola já rolou, Mas rei mesmo só Pelé Essa terra só vingou Depois que o negro por aqui pôs seu pé. Grande Otelo, a voz por quem Macunaíma falou, E quem canta pelo mulato Caymmi é Xangô. Pixinguinha no 1x0 faz o drible igual Mané. Mexe que Naná chegou Vem Marçal dizer qual é, Delegado quer no pandeiro Suzano E na batuta Mestre André. Ô, por aqui quem se criou Misturou-se um a um. Não haja alma branca ou luto negro, Seja pra todos ou pra nenhum. Por Obatalá, Orixalá nos quer Como nos fez Olorum, Esse é meu Brasil de fé. Pobre do Brasil sem tudo isso que o negro animou Da Bahia o que seria sem o ilê-ayê? Sem a capoeira o que seria de Salvador? Uma terra sem sabor, Sem ter Gil, sem ter dendê, Liberdade então nem sei, Sem ter João Cândido, Zumbi, sem Chico-Rei Sem maracatu Pernambuco não dá pra entender Minas sem Bituca, sem congado, sem catopé Se eu dissesse que no Rio o nosso samba acabou, Se faltasse o Carnaval, Choraria o Redentor, Ele mesmo quem mandou E Aparecida nos surgiu da nossa cor.