Não tenho para a cabeça Somente o verso brejeiro Rimo no chão da senzala Quilombo com cativeiro, olerê Não tenho para o coração Somente o ar da montanha Tenho a planície espinheira Com mão de sangue, façanha, olerê, olará Não tenho para o ouvido Somente o rumor do vento Tenho gemidos e preces Rompantes e contratempo, olerê, olará, olerê, lará Tenho pra minha vida A busca como medida O encontro como chegada E como ponto de partida Não tenho para o meu olho Apenas o sol nascente Tenho a mim mesmo no espelho Dos olhos de toda gente, olerê Não tenho para o meu nariz Somente incenso ou aroma Tenho este mundo matadouro De peixe, boi, ave, homem, olerê, olará Não tenho pra minha boca Sagrados pães tão somente Tenho vogal, consoante Uma palavra entre dente, olerê, olará, olerê, lará Tenho pra minha vida A busca como medida O encontro como chegada E como ponto de partida Não tenho para o meu braço Apenas o corpo amado E assim sendo o descruzo na rédea No remo e no fardo, olerê Não tenho para a minha a mão Somente acenos e palmas Tenho gatilhos e tambores Teclados, cordas e calos, olerê, olará Não tenho para o meu pé Somente o rumo traçado Tenho improviso no passo E caminho pra todo lado, olerê, olará, olerê, lará Tenho pra minha vida A busca como medida O encontro como chegada E como ponto de partida.