Sérgio Ricardo

Beira do Cais

Sérgio Ricardo


Chegou o mar batia
No rasgo do vento
Na beira do cais
Chegou respirando
Era vivo portanto 
Na beira do cais
E só o que trazia
Era a noite vazia 
Na beira do cais
Traçado o desgosto
No mapa do rosto 
Na beira do cais,
marinheiro
Ai ai, beco sem saida na beira do cais
Ai ai, sem meia medida na beira do cais

Marinheiro
Leme solto
No rumo do poço, fosso
Negro do fundo do mar

O amor arrancado
Do bolso rasgado 
Na beira do cais
Nos braços de outro
Perdeu seu tesouro 
Na beira do cais
Pesando vingança
Perdeu na balança 
Na beira do cais
Olhando pro fundo
Do muro das ondas 
Na beira do cais
Marinheiro
Ai, ai, roía o retrato na beira do cais
Ai, ai, cortado de rato na beira do cais
Marinheiro
Leme solto no rumo do poço, fosso
Negro no fundo do mar

Um tiro no ouvido
Ao longe um estampido 
Na beira do cais
Um rombo no muro
Um rosto no furo 
Na beira do cais
No rasgo do vento
Nem grito ou lamento 
Na beira do cais
E o mar despejava seu terceiro mundo
Na beira do caos, marinheiro
Ai, ai, ao longe as sirenes na beira do cais
Ai, ai, voa gaivota serena na beira do cais

Marinheiro
Leme solto no rumo do poço, fosso
Negro no fundo do mar.