Chegou o mar batia No rasgo do vento Na beira do cais Chegou respirando Era vivo portanto Na beira do cais E só o que trazia Era a noite vazia Na beira do cais Traçado o desgosto No mapa do rosto Na beira do cais, marinheiro Ai ai, beco sem saida na beira do cais Ai ai, sem meia medida na beira do cais Marinheiro Leme solto No rumo do poço, fosso Negro do fundo do mar O amor arrancado Do bolso rasgado Na beira do cais Nos braços de outro Perdeu seu tesouro Na beira do cais Pesando vingança Perdeu na balança Na beira do cais Olhando pro fundo Do muro das ondas Na beira do cais Marinheiro Ai, ai, roía o retrato na beira do cais Ai, ai, cortado de rato na beira do cais Marinheiro Leme solto no rumo do poço, fosso Negro no fundo do mar Um tiro no ouvido Ao longe um estampido Na beira do cais Um rombo no muro Um rosto no furo Na beira do cais No rasgo do vento Nem grito ou lamento Na beira do cais E o mar despejava seu terceiro mundo Na beira do caos, marinheiro Ai, ai, ao longe as sirenes na beira do cais Ai, ai, voa gaivota serena na beira do cais Marinheiro Leme solto no rumo do poço, fosso Negro no fundo do mar.