Já viajámos de ilhas em ilhas já mordemos fruta ao relento repartindo esperanças e mágoas por tudo o que é vento Já ansiámos corpos ausentes como um rio anseia p´la foz já fizemos tanto e tão pouco que há-de ser de nós? Que há-de ser do mais longo beijo que nos fez trocar de morada dissipar-se-á como tudo em nada? Que há-de ser, só nós o sabemos pondo o fogo e a chuva na voz repartindo ao vento pedaços que hão-de ser de nós Já avivámos brasas molhadas no caudal da lágrima vã e flutuando, a lua nos trouxe à luz da manhã Reencontrámos lágrimas e riso demos tempo ao tempo veloz já fizemos tanto e tão pouco que há-de ser de nós Que há-de ser da mais longa carta que se abriu, peito alvoroçado devolver-se-á: «endereço errado?» Que há-de ser, só nós o sabemos pondo o fogo e a chuva na voz repartindo ao vento pedaços que hão-de ser de nós Já enchemos praças e ruas já invocámos dias mais justos e as estátuas foram de carne e de vidro os bustos Já cantámos tantos presságios pondo o fogo e a chuva na voz já fizemos tanto e tão pouco que há-de ser de nós? Que há-de ser da longa batalha que nos fez partir à aventura? que será, que foi quanto é, quanto dura? Que há-de ser, só nós o sabemos pondo o fogo e a chuva na voz repartindo ao vento pedaços que hão-de ser de nós