Sérgio Godinho

Ouro Preto

Sérgio Godinho


Ouro Preto foi na nuvem transportada 
agora não chovia ainda em Minas 
mas já a grande mão ali pousava 
a mão que moldaria nas colinas 
Ouro Preto 

Eu vi no ar brilhante a trajectória 
das chuvas que trouxeram quantidade 
de gestos, arquitectos da memória 
aos poucos pondo o rosto na cidade 
de Ouro Preto, Ouro Preto 

O líquido suspira pela terra 
formando gota o casario 
as formas que a paisagem não encerra 
são corpos que na tarde acaricio 
em Ouro Preto, Ouro Preto 

Sentado na soleira desmaiado 
uni-me com a estátua que me beija 
a mão que me talhou, do Aleijado 
sentou-me incandescente em sua igreja 

Raiz que reconheço também minha 
ou âncora por vezes já sem nó 
eu chego aqui como antes já não vinha 
em Ouro Preto eu não me sinto só 
Ouro Preto, Ouro Preto