A vida que tudo arrasta, arrasta os amores também Uns dão à costa, exaustos, outros vão mais além Navegadores, só solitários dois a dois Heróis sem nome e até por isso heróis Desde que o John partiu, a Rosinha passa mal Vive na Loneley Street, Heartbreak Hotel, Portugal Ainda em si mora a doce mentira do amor Tomou-lhe o gosto ao provar-lhe o sabor Olha os amores são facas de dois gumes Têm de um lado a paixão, do outro os ciúmes São desencantos que vivem encantados Como velas que ardem por dois lados Aos amores Aos amores Aos amores Aos amores No convento as noviças cantam as madrugadas E a bela monja escreve cartas arrebatadas É por virtude tua que tu és o meu vício Por ti eu lanço os ventos ao precipício O Rui da Casa Pia sabe que sabe amar Sopra na franja, maneira de se pentear Vai à posta restante para ver quem lhe escreveu Foi uma bela monja que nunca conheceu Olha os amores são facas de dois gumes Têm de um lado a paixão, do outro os ciúmes São desencantos que vivem encantados Como velas que ardem por dois lados Aos amores Aos amores Aos amores Aos amores (Desordeiros, irresistíveis, deleituosos, entranhantes Verdadeiros, evitáveis, buliçosos, como dantes Bicolores, transgressores, impostores, cantadores) A Marta, quinze anos, vê na televisão Um beijo igual ao que ontem deu dentro do vulcão Faz baby-sitting à espera de parecer mulher Quando é que o amor lhe explica o que dela quer? Depois da dor, como conservar a inocência? Leia um bom livro, legue as lágrimas à ciência E parta o vidro em caso de necessidade Deixe o seu coração ir em liberdade Até que os amores são facas de dois gumes Têm de um lado a paixão, do outro os ciúmes São desencantos que vivem encantados Como velas que ardem por dois lados Aos amores Aos amores Aos amores Aos amores Desordeiros, irresistíveis, deleituosos, entranhantes Verdadeiros, evitáveis, buliçosos, como dantes Bicolores, transgressores, impostores, cantadores