Senô Bezerra

Desenhos de Nós

Senô Bezerra


Hoje você me falou de longe
E as paredes tinham seu som
Seu rosto lunar
Aqui em meu quarto

Sobre a mesa
Entre o celular e as chaves
Está a sua foto
A sua imagem sensível

Recomponho teu rosto
Revejo em vários retratos
Me aproximo do espaço que nos separa

Aprendiz do novo sonho
Anuncio esse despertar
Para a sua forma diferente
Este plano de não aparecer nas manhãs

É difícil a viagem
Essa vez que arde
Este ar quieto que não se move
Não deveria ser assim
Depois de tantas ruas que inventamos
Dos nossos anos estampados nos calendários

Eu não sei falar as palavras certas
Mas sei traçar uns círculos
Uns desenhos de nós
Dedicando um ao outro a vida

Eu amo seus pequenos corpos de asas
Ele me salvam quando as coisas estão frágeis
Estou aprendendo a ficar sozinho
A falar comigo entre os cafés

Talvez do outro lado
Sejamos uma forma que muda com a luz
Até sermos luz
No movimento dos ventos
Um instrumento dos deuses das existências
Como canções e mantras
À espera de outra chuva
À espera que me devolvam seu tempo