1984 Coisas de arte e engenho dum verão portenho Que me fez relembrar Antigos tangos, boleros, um toque de Eros bulindo no ar Você sorrindo de graça num véu de fumaça, toda tão gazela E a gente troca o dia pela noite, a fantasia desbotada Tem a cor de aquarela Num céu de Marte e Vênus, nem mate ou nem menos Foi a nossa paixão O fruto mais permitido, doce balido de uma canção A sua flor encarnada, sua boca molhada de tanto desejo Ainda te vejo pela Corrientes entre-dentes Sussurrando versos de alta tensão No choro alegre das ruas rolam nossas águas, Rolam nossas máguas No azedume dos becos, botecos de esquina, O nosso medo é normal Dois pequeninos burgueses que se dão ao luxo da felicidade Sabendo que mais tarde ou mais cedo o tempo passae E o velho enredo é lixo de um carnaval Os discos esparramados num quarto alugado de segunda classe A outra face da vida, a outra parte da história, O lado forte de nós Eu viro a última página e assino embaixo o nosso santo nome Adiós muchacha, companheira, amiga de aventuras e intriga, De fartura e fome.