Filho sem nome Tão grande é a fome Pai no xadrez Mãe tem mais seis pra sustentar. Vem pra cidade Indigente, pingente Semente de um mal Não pode evitar. Menino é engraxate Toca o carrinho de feira Se vira, arruma um biscate Bate alguma carteira. " ô moça, compra chiclete" E a moça fica cabreira Medo, sei lá, da gilete, Pivete não é brincadeira. Pra quem subir a ladeira O morro tem o perdão Mesmo que faça besteira 'inda que seja ladrão. Pra quem nasceu na rabeira Não tem mesmo solução Vai ser assim, vida inteira, Dura, a batalha do pão. Olha o torrado E a noite é criança Que come criança Que passa correndo do camburão Nossa ciência No mundo da lua Deixando na rua Sua missão. Nos quatro cantos do mundo Nos quatro quartos da hora Nos quartos do submundo É sempre a mesma estória. Filantropia promove Um belo conto de fada Mas quando a prova dos nove Noves fora, nada. Pra quem sobrou na rabada Vai ser assim, sempre igual, Primeiro o pai, que foi filho, Filho etc. e tal Pra quem varou madrugada Cobrindo o corpo um jornal Desgraça pouca é piada Pouca loucura é banal Olha um turista Que praia, que vista E a pinta de artista, que tal? Que trouxa em potencial! Vem o passista Se atreve, se arrisca, Mão leve e um estrago no capital Mas pivete cuidado, Vê se não marca bobeira Se bate no juizado Vai engajar na carreira.