Sinto vergonha de mim Por ter sido educador de parte desse povo Por ter batalhado sempre pela justiça Por compactuar com a honestidade Por primar pela verdade E por ver este povo já chamado varonil Enveredar pelo caminho da desonra Sinto vergonha de mim Por ter feito parte de uma era que lutou pela democracia Pela liberdade de ser e ter que entregar aos meus filhos Simples e abominavelmente a derrota das virtudes pelos vícios A ausência da sensatez no julgamento da verdade A negligência com a família, célula-mater da sociedade A demasiada preocupação com o eu feliz a qualquer custo Buscando a tal felicidade em caminhos eivados De desrespeito para com o seu próximo Tenho vergonha de mim Pela passividade em ouvir sem despejar meu verbo A tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade Para reconhecer um erro cometido A tantos floreios para justificar atos criminosos A tanta relutância em esquecer a antiga posição De sempre contestar, voltar atrás e mudar o futuro Tenho vergonha de mim Pois faço parte de um povo que não reconheço Enveredando por caminhos que não quero percorrer Eu tenho vergonha da minha impotência Da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço Não tenho pra onde ir Pois amo, amo este meu chão Vibro ao ouvir meu Hino e jamais Usei a minha Bandeira para enxugar o meu suor Ou enrolar meu corpo na pecaminosa Manifestação de nacionalidade Ao lado da vergonha de mim Tenho pena, tanta pena de ti povo brasileiro De tanto ver triunfar as nulidades De tanto ver prosperar a desonra De tanto ver crescer a injustiça De tanto ver agigantarem- se os poderes Nas mãos dos maus O homem chega a desanimar da virtude A rir-se da honra A ter vergonha de ser honesto