Cada vez que ouço falar em boiada Ou das comitivas de transporte bruto O meu pensamento volta no estradão De longe a peonada gritando eu escuto Sei que sou mais um entre mil boiadeiros Porém nessa lida fui absoluto Maneava uma rês sem ter dificuldade Fui um professor na velha faculdade Dessa profissão que se cobriu de luto Ali do Rio Grande o passado é de glória Cantado em poesia e falado em sonetos Do café goiano, do som da viola Pra ser mais exato falo de Barretos Tropas descansando lá no corredor Das modas trovadas em lindos duetos Chegava na frente cargueiro e madrinha Trazendo cachaça, jabá e farinha Pra queima do alho acendia os gravetos Hoje sou um velho peão estradeiro Que já atravessou o grande centenário Montado num burro manso e marchador O tempo traçou meu itinerário A poeira vermelha e o Sol ardente Me acompanharam no belo cenário Rios de piranha, frio e chuva forte O vento de agosto e a sombra da morte Só abrilhantaram o meu relicário Aqui na plateia dessa arquibancada Um peão sem laço, espora e gibão Aplaude de pé grandes profissionais Que enfrentam o lombo de um bravo pagão Depende do pulo e da gineteada Pra ouvir a galera gritar de emoção Espora batida do peso da idade Também faz meu peito vibrar de saudade Dentro da arena do meu coração Meu Brasil boiadeiro Sou você, sou a sua memória Sou peão centenário Sou caboclo, sou parte da história