Reynaldo Bessa

Retrato do beijo quando morto

Reynaldo Bessa


Meu beijo
Morreu à míngua 
A língua no fosso 
Do desejo 
É certo 
O meu beijo 
Sangrou toda estima 
A rima que havia 
No sobejo 
Meu beijo 
Mordeu a língua 
A míngua no poço 
Do desejo 
É fato 
O sobejo 
Vazou toda rima 
A vida que havia 
Num só beijo 
Morto e farto 
Do Fardo do cortejo 
Incompleto pelo tudo, 
Pelo todo 
Da metade do outro beijo 
Fraco e oco 
Do soco do desdém
Pisado feito bicho, 
Feito seixo 
Feito Zé Ninguém