Olha, patrão, hoje me vejo indignado Reduziram meu salário Como vou sobreviver? Tua gravata é o espelho dos meus farrapos Tô na lama feito os ratos Só pra te satisfazer Meu filho, ontem, foi pra escola sem comer Foi em busca do saber Que o senhor insiste em não usar E o meu dinheiro se perdeu que eu nem vi Mas o senhor morre de rir Do meu imposto a pagar Só quero deixar claro que a minha realidade É o retrato da carência de carinho num país Meu recurso é escasso, já tenho bastante idade Mas mantenho obediência a tudo aquilo que eu quis E não fiz Eu não fujo do compromisso Revelando as fraquezas Minha força vem das safadezas a que assisto na tevê Castigaram o meu chão, sou filho desta mãe gentil Filho desse chão brasil Ainda que eu me pergunte o porquê O meu apelo é informal, mas é sagrado Quem sabe seja escutado Ou, quem sabe, seja mais uma dor Mas essa dor certamente será curada Senhor, não é por falar nada Mas meu filho há de ser doutor