Renato Motha

Cansaço

Renato Motha


O que há em mim 
é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,  
Nem sequer de tudo ou de nada:  
Cansaço assim mesmo, 
ele mesmo,  
Cansaço.  
A sutileza das sensações inúteis,  
As paixões violentas 
por coisa nenhuma,  
Os amores intensos 
Tudo isso me faz um cansaço,  
Este cansaço,  
Cansaço.  

Há sem dúvida quem ame o 
infinito,  
Há sem dúvida quem deseje o 
impossível,  
Há sem dúvida quem não queira 
nada -  
Três tipos de idealistas, 
e eu nenhum deles:  
Porque eu amo infinitamente o 
finito,  
Porque desejo impossivelmente o 
possível,  
Porque quero tudo, ou um pouco 
mais, se puder   
Ou até se não puder 
E o resultado?  
Para eles a vida vivida ou 
sonhada,   
Para eles o sonho sonhado ou 
vivido,  
Para eles a média entre tudo e 
nada, é isto
Para mim só um grande, 
um profundo,  
E, ah com que felicidade  
cansaço,   
Um supremíssimo cansaço,   
Íssimno, íssimo, íssimo,  
Cansaço...