ANJOS DO INFERNO (Reginaldo Bessa e Hermínio Belo de Carvalho) E Deus acordou com vontade de caantar Pediu emprestado a São Jorge um violão Depois pegou um pandeiro e um ganzá Que deu de bom grado a São Cosme e Damião Um coro de arcanjos então se aprochegou Sob a batuta de Mestre Gabriel Um cantochão eloqüente ecoou E um Carnaval se fez no céu Lá embaixo mais um pivete acorda cedo Dormiu embrulhado com raiva numa folha de jornal Magrelo , subnutrido é sempre o mesmo enredo Sai de baixo, vem lambendo uma fome que dá medo A barriga ronca-ronca igual cuíca Coração disparado é um tantã Recruta outros pivetes na sarjeta Nasce um bloco de sujo na manhã Ô abre alas pra ver o arrastão passar É mais um bloco de sujo que vai chegar No cruzamento do inferno com o céu Dá-se o encontro das duas facções É um repinique de harpas e taróis No contratempo das mais reprimidas emoções São Jorge se abraça a Boa Morte Praga de Mãe pede benção a Gabriel São Cosme e Damião vão com Pixote Pelas nuvens armando um escarcéu Sai de baixo, que a miséria acorda cedo Pivete vira manchete numa folha de jornal Nem sempre a notícia revela o verdadeiro enredo O retrato não faz jus ao tamanho do seu medo Que a barriga roncando era cuíca Coração disparado era um tantã Seu corpo estatela na sarjeta Crava um beijo de sangue na manhã Ô abre alas pra ver o arrastão passar É mais um bloco de sujo que vai chegar E Deus foi dormir com vontade de chorar