E quem é que não bebe atualmente Se é da elegância? Se é da educação? Quem não bebe gelado, bebe quente Para alegrar o frio coração! Uns bebem só por causa da frieza Outros bebem por causa do calor E há quem beba por causa de tristeza Ou, também, p’ra acabar o mal humor Sei quem bebe porque sofre de azia Outros que bebem muito por cansados Ou por isto ou aquilo, todos bebem E eu beberei também os meus bocados E por que não? Se o modernismo manda Que todo cidadão deve beber Para evitar miasmas e micróbios -Condutores da morte e do sofrer? E quem a vida quer levar em gosos E viver muito mais e divertido Bebe, há tipos com mais de oitenta anos Que mais de mil barris já têm bebido Esses vadios que andam magros, tortos Pelas ruas tremendo e trambecando São idiotas, a tísica pagou-os Porque não vão beber de quando em quando As emulsões, os chás, os sinapismos Xaropes, invenções do Zé-Urú Não valem quanto vale um calistréte Da branca, feita ponche com caju Toma-se um cálix, dois, ou quatro, ou cinco Ou mais, se a gente quer ou tem vontade E em dois tempos, o mal foi-se, sumiu-se E o cabra fica forte como um frade! Noé, o patriarca, era um talento! Era antigo e, contudo, conhecia Que a bebida faz bem longa esta existência E eis porque um bom trago ele bebia! Depois que o Deus do céu deu-lhe licença Para deixar a arca, uma semana Ele a vide plantou e com o suco De quando em vez tomava carraspana Camões, Bocage e, finalmente, todos Os talentos nas artes, na ciência Adoradores foram do Deus Bacho Do Deus que excite e eleva a inteligência! E, portanto, censuras não removem Meus modos de pensar e de querer Arrede quem não pode! Eu vou passando A branca dá-me vida! Hei de beber!