Cruzando o tempo, daqui se vê Muito negreiro vendendo o quê? Traz escondido em seu mal-querer Áfricos, tráficos, vida e ser Varando as ondas escuto a dor Feito um lamento: Ai, meu Senhor! Onde a razão trata do furor Canta a vingança da clara cor Por todo o mar, liberdade Há muito tom de verdade Cada lugar do oceano Faz onda como desejar Todo escravo é desejo a fim De espaço aberto, de além de si Vive na espera de ser feliz Na volta à terra de seu país Toda corrente é quimera só De quem pretende guardar a nó A força viva de um ser menor À força, a vida de um ser melhor Por todo o mar, liberdade Há muito tom de verdade Cada lugar do oceano Faz onda como desejar Todo negreiro é navio mercê De muitas ondas, de outro querer Quem prende alguém a qualquer dever Torna-se escravo até sem saber Quem é mais livre: Corrente ou pé? Mordaça ou voz? Sombra ou luz, até? Eis o silêncio; a resposta é Livre é quem vive de fé em fé Livre é quem vive de fé em fé!