No palco de um baile campeiro O grande gaiteiro sua vida repassa Seus versos, por vezes tristonhos Embalaram sonhos de toda uma raça Nos olhos já brotam saudades De uma mocidade de lindos momentos No peito são tantas lembranças Que ficam d’herança pro resto dos tempos Seu toque é do estilo mais puro Luzeiro no escuro, tem cheiro de chão Seu jeito de taura sem medo Brotou dos varzedos do velho Pontão E agora o baile têm fim O mundo é assim, se cala o cantor Não mais a negra cordeona Se abrindo, chorona, sobre o tirador Pataquero da estirpe indomada Fez da pianada fiel companheira Levando ao peão lá de fora A arte sonora terrunha e campeira Na estampa o antigo Rio Grande Nas veias o sangue de quem faz história Descansa, mas sua jornada Fica na invernada de nossa memória Pois eu que admiro este taita E enxergo na gaita a alma do homem Afirmo -não morre seu canto Num fundo de campo ecoa seu nome Rebrota qual seiva nativa Mais verde e mais viva depois da queimada Voltando de novo o gaitaço Na força do braço desta gurizada Porca Véia, amigo e parceiro Gaudério tropeiro de lindas canções E enquanto uma gaita se abrir O teu toque há de vir Alegrar os galpões Obrigado, por tanta alegria Mas sei que um dia que o mundo da volta Te esperamos com erva na cuia E o teu grito de uia, noutro baile tu salta