Foi uma vez: Eu refletia, à meia-noite erma e sombria A ler doutrinas de outro tempo em antigos manuais Claramente eu o relembro! Era gélido o dezembro E o fogo animava o chão de sombras fantasmais A seda rubra da cortina arfava em lúgubre surdina Arrepiando-me e evocando medos sepulcrais Sondei a noite erma e tranquila, olhei-a fundo, a perquiri-la Sonhando sonhos que ninguém ousou sonhar iguais Havia um corvo em minha porta Que dizia: Nunca mais! A ave negra em minha porta Profeta! Brado - Ó ser do mal! Profeta sempre, ave infernal Que o Tentador lançou do abismo, ou que arrojaram temporais Profeta! Brado - Ó ser do mal! Profeta sempre, ave infernal! Pelos céus, por esse Deus que adoram todos os mortais Seja essa a nossa despedida! - me ergo e grito, alma incendida Volta de novo à tempestade, aos negros antros infernais E lá ficou, hirto, sombrio, ainda o vejo, horas a fio Inerte, inerte, sempre em meus umbrais Havia um corvo em minha porta Que dizia: Nunca mais! Havia um corvo em minha porta