Uma seca no sertão Faz um estrago danado Seca rios e açudes E o chão fica ressecado E pra nosso desconforto Caveira de gado morto É visto por todo lado Na seca a terra fica Rachada e muito quente Barragem nenhuma sangra O rio não dá enchente Para carregar os lixos Falta pasto para os bichos E alimento pra gente As matas viram garranchos As folhas caem no chão Sem semente e sem abrigo Muitas aves do sertão Rapidinho sem demora Batem asas, vão embora Para outra região Uma seca com certeza Traz um péssimo resultado Por todo lado a gente Só ver caveira de gado Que a fome ingrata matou Porque o pasto faltou No chão seco e rachado Na seca o sertanejo Vai para a roça plantar Mas para sua tristeza Não ver a chuva chegar A planta ninguém socorre Na cova a semente morre Não chega nem germinar Uma tristeza profunda O pobre roceiro sente Quando acorda de manhã Que olha para o nasente E vê da porta de casa O Sol vermelho igual brasa Saindo já muito quente A fome mata ovelha E gado a semana inteira Só escapa jegue e bode No meio da capoeira Porque come fruta pêca Papel velho, folha seca Também casca de madeira Numa seca tão cruel Tão horrível e tão ferina Se acaba o verde da mata Da região nordestina O alimento se some Morre até gente de fome Que a seca é assassina Numa seca o sertanejo A sofrer é condenado Pai de família se obriga Saquear feira e mercado Budega e armazém Pra dar aos filhos que têm O alimento tomado Na seca o vento traz Em vez de chuva, poeira Enchendo as nossas casas De folha, terra e sujeira Que vem do mato e da gruta Aumentando mais a luta Da nordestina roceira A dona de casa vai Com um cansaço estafante Com uma lata na cabeça Buscar água bem distante Com os pés empoeirados E os braços tão cansados Que para de instante em instante A seca sem dúvida alguma Pra nossa terra só traz Aflição para os humanos E morte pros animais E nos campos do sertão Se acaba a vegetação Que tão bem aos bichos faz