Doutor se eu não lhe atraso Demore aí meu amigo Pra eu lhe contar um caso Acontecido comigo Eu tive necessidade De ir inté a cidade Pra comprar umas besteirta Café, açuca, balaio E uns resto de piquaio Pruque pobre não faz feira Quando eu fui foi de jumento Quando eu vortei foi de pés Foi o maior sofrimento Pois de légua era umas dez Da cidade lá em casa O sol quento feito brasa E o vento sem dar açoite E eu naquela trivessia Conheci logo que ia Chegar a boca da noite. Quando eu tava descansando Na sombra duma ingazeira Vi um carro vim roncando No tupete da ladeira Eu pensei com meus butão, Acho que vou dá cum a mão E se o dono for amiguinho Pode até me levar Aí eu vou encurtar A metade do caminho. Era um carro de arto preço Por arte do satanás Um desses que eu não conheço Onde é a frente ou atrás Eu disse para o chofer, Doutor se o sinhô puder Fazer a mim um favor Me levando até meu rancho Eu ficava muito ancho Inté pagava ao sinhô. Ele respondeu: "não posso" Desse jeito mermo assim, "você leva muito troço E a estrada tá ruim, E ainda tem outro gancho Não vou passar no seu rancho E vom com a minha muié Vá mesmo amassando barro Que afinal não comprei carro Pra carregar esmolé!" E deu um catucão no carro Que quase bateu em mim Os pneu queimmaro o barro E eu saí dizeno assim, Deus lhe acompãe doutô Você não fez-me um favô Me deixou só feito um monge Voimicê tá apressado Mas se lembre do ditado "de vagar se vai ao lenge!" Deixei o pé de ingá Imburaquei no camim Parano aqui, acolá De vagar de vagazim Cansado, muito cansado Com os pés istrupiado E o rosto da cor de brasa Passe no campo redondo E quando o sol tava se pondo Eu tava chegando em casa. Da minha casa pra baixo No ôi dagua dos macaco Na berada dum riacho Aonde tem uns buraco Eu ví um carro parado, Cum capuz alevantado Um home e uma muié. Eu maginei, vou jantar E depois vou inté lá Pá saber o que eles qué!" Depois que inchi a barriga Depois que matei a sede Fui me deitar numa rede Mode tira a fadiga Do cansaço da viage E pá criar mais coraige Acendi o meu cigarro Depois dixe a um irmão meu Vou saber o que se deu Cum dono daquele carro. Chegando lá preguntei, Que aconteceu meu patrão? Ele respondeu: "quebrei A barra da direção! Mas quando ele olhou pra eu Quando ele me conheceu Me disse assim: "amiguinho, Reconheço que errei Na hora que lhe deixei Na metade do caminho!" Eu lhe respondi, doutô Isso num tem importança Afiná aqui já estou E já vincí a distança E pra mudar de assunto Eu agora lhe pregunto, Em que posso lhe servir? Se não puder viajar Vá lá pra casa jantar, Tumar café e drumir! Ele ficou muito ancho A noite tava chuvosa Teve que ir pra meu rancho Com a muiesona orgulhosa Mandei lhe trazer qualhada Com cuscuz e carne assada Armei a rede também Truxe cubertor depois Só para mostrar aos dois Que o mau se paga com o bem;