Numa tarde de inverno, era água que Deus mandava O campo encharcado, o lombo molhado E o peito inchado dos desenganos De quando em vez algum paisano Me orelhava em pensamentos E os meus arrependimentos Seguiam me maltratando Êra vida ingrata Mágoas de um campeiro só Nem sempre depois da tormenta, chega logo a bonanza Quando o arrozal se termina Quase sempre o tombo é certo O longe nunca foi perto E é assim que sigo solito Ao tranco bem despacito Num mundo só meu mas deserto Êra vida ingrata Não é bueno viver com tristezas e quem vive me entende Olhar meu galpão já despido Sem os olhares da prenda Peço à sorte que me entenda E me ajude até o fim do inverno Pra que não me apodreça o cerno Traga de volta a minha prenda Êra vida ingrata