Estou olhando lá na curva do destino Meus longos dias lentamente se findando A mocidade que ficou lá na distância E a velhice aos poucos se aproximando As minhas pernas se encontram fraquejadas Quem era forte não pode mais com o laço Um boiadeiro de talento e muitas glórias Hoje se encontra naufragado no fracasso E quantas vezes através de uma miragem Vejo a boiada caminhar no pensamento Desta boiada já não sou mais boiadeiro Sou agora um cargueiro transportando sofrimento A minha tropa há tempo está parada Até parece que sofre como eu O meu cachorro não sai da porta do rancho O meu berrante para sempre emudeceu Minha guaiaca pelos anos já desfeita Meu par de espora no esteio pendurada O coxinilho que já fora meu abrigo Hoje somente é uma sombra do passado E quantas vezes através de uma miragem Vejo a boiada caminhar no pensamento Desta boiada já não sou mais boiadeiro Sou agora um cargueiro transportando sofrimento Na velha estrada não se vê mais a poeira Rastro do gado o progresso apagou Perdi aquela que em vida eu tanto amava Linda cabocla que o berrante conquistou Meus companheiros já deixaram esta vida Todos partiram deixando a saudade Estou seguindo o berrante do tempo Que pouco a pouco me conduz a eternidade E quantas vezes através de uma miragem Vejo a boiada caminhar no pensamento Desta boiada já não sou mais boiadeiro Sou agora um cargueiro transportando sofrimento