Pedro Ortaça

Momento Sério

Pedro Ortaça


Momento Sério

(Levanta-se na paisagem desta minha alma campeira 
As crinas da cabeleira daquela indiada selvagem 
Que misturava a coragem com rasgos de fidalguia 
Entremeando ventania com terra e com sacrifício 
Peleadores por oficio por que a vergonha exigia) 

Olho no espaço e vejo na brasa que o céu destapa 
A minha terra farrapa, fruto do nosso falquejo 
O berço altivo do andejo que encarava o sol de frente 
A gente da minha gente, a cepa, o tronco, a raiz 
Posta perante o país na condição de indigente 

(Velhos sinais de perigo ou melhor dito , de luto 
Até parece que escuto trovoadas do tempo antigo 
Quando o taura ao desabrigo com sangue a meia costela 
Calçava o pé na cancela neste garrão de querência 
Pra manter a permanecia da pátria verde amarela) 

Chego até escutar os gritos de soldados e paysanos 
De índios e castelhanos surgido dos infinitos 
Cumprindo os sagrados ritos de guardar linha e barranca 
Legenda que não se arranca dos que queiram viver 
Mas preferiam morrer à erguer bandeira branca 

(Talvez que alguns te reneguem chão dos meus antepassados 
Mas que importam renegados, eles e aqueles que os seguem 
Que se avacalhem, se entreguem haverá sempre um turuna 
Haverá um garrão de tuna com fibra e com coração 
Para dizer que este chão não é uma terra reiúna) 

Aqueles que não entendem nossa base de estrutura 
Ou não leram a escritura de onde os gaúchos descendem 
Os que compram e que vendem sem respeitar a legenda 
Os do encobre e do remenda, do esbulho e do desmande 
Não sabem que este Rio Grande não é uma sucata a venda.