(Foi na hora derradeira Quando escutei a porteira Na peroba do batente Tremi a luz do caminheiro Sabendo que no terreiro Estava chegando gente O Barão latiu nervoso Mandei ficar em repouso Bicho bravo se comporta! Não veio ninguém à lembrança Quando ouvi uma batida mansa Lá na madeira da porta Falei em voz alta, tô indo E a porta já fui abrindo Erguendo o lume de lado Clareei dois olhos brilhantes E contemplei num instante Um rosto muito magoado Mandei que o homem entrasse E no banco se sentasse De um cafezinho falei Respondeu, não se deprime Só vim te falar de um crime Que eu não devia e paguei) Há tempos fui encarcerado O senhor deve se lembrar Porque o doutor delegado O senhor mesmo foi chamar Ouviram toda a minha história Decidiram que a culpa era minha Me jogaram no fundo da escória Mas digo que culpa eu não tinha A sorte não é caça feita Existe a questão da hora Às vezes quando a gente chega O outro já foi embora Assim foi que quando eu cheguei Entreguei-me todo na paixão Descobri que a Tereza que amei Não era a dona do seu coração Nem é uma questão de honra E a honra não é nada, senhor O que pode doer uma desonra Perto do que dói um amor Que culpa tem um coração Que chora por uma mulher A arma que estava na mão Não era uma arma qualquer De fato, seu moço, eu matei A verdade não vou corromper Mas antes pra ela eu falei Não sei qual dos dois vai morrer E morri na morte de Tereza Fui sepultado no xadrez Seu moço, aprenda essa certeza Quem mata morre duas vezes