Nasci num país de silêncio e luta E cresci rasteiro (meu pão era curto) Não vendi a esperança Nem pedi meu preço De tudo o que vi Nunca mais me esqueço Fui vivendo à força De suor e fome Vi levar amigos Do meu mesmo nome Nas balas da sorte Tive a minha escola Aprendi a vida na morte Em angola Numa lua cheia Saltei a fogueira Numa lua nova Saltei a fronteira Sofri um país Calei a razão Vendi minha pele em frança Por pão Calaram-me a boca Cortaram-me o riso Mas estava de pé Quando foi preciso Em abril, abril Em abril-sem-medo Vesti minha farda Fardado em segredo Em abril, abril Em abril-sem-medo Da raiva e na dor Do suor sem terra Deste dó maior Do lucro e da guerra Das armas em flor Nasceram razões Nasceram braços Nasceram canções Nasceram bandeiras Da cor deste sangue Que temos nas veias Que temos na carne Nasceu meu país Meu país criança Em abril, abril Tempo de mudança Meu povo, raiz, Dum cravo de esperança.