Eu lembro que em 97 você ainda pivete Te abordei lá na Werneck com mais dois moleques Portando um simulacro de pistola, tava fraco De back e tabaco e eu nem te cortei no taco Puxei seu prontuário ainda nem era primário Nem assinado um usuário era só uma criança Que perdeu a inocência entre o crime e a violência Saciando a dependência uma prisão sem ter fiança Lembre da minha vivência entre ocorrências Uma questão no passado trouxe uma reminiscência Sua aparência não era estranha e seu nome era Marcone Souza Filho... Lembrei da jovem Ivone Em um dia chuvoso e eu da farda orgulhoso Patrulhando a favela de Taticão Cabuloso Deparei com uma cena estranha uma menina moça Grávida se contorcendo tinha rompido a bolsa E eu novo de polícia o curso ainda era notícia Primeiros socorros, com receio eu fiz seu parto IVONE disse que seu bebê teria o meu nome Sou soldado Nascimento mas me chamo Marcone As vezes os Deuses brincam com o destino Fui Anjo e Ceifeiro na historia de um menino Fui tão aclamado pela ética e lisura Aumentei legado na tática e leitura Era Soldado Nascimento ajudei no nascimento Virei cabo pelo tempo e hoje sou sargento Te acompanhei desde então sua primeira detenção Toca peita, facção expressão de revoltado Uma sementinha do mal que eu colhi no Cafezal Sei que não fiz por mal meu trabalho foi notado Com 15 Já é Patrão no morro Cafezal Com 16 Desfilava pelo código penal Com 18 O Patrão ameaça um policial Com 18 Vira o alvo mais pedido na Central Um dia chuvoso e eu da farda orgulhoso Patrulhando a favela de Taticão cabuloso Uma cena cotidiana um menino moço Maquinado com cromada e um estampido que eu ouço Fiz tudo que eu sei me cobri abriguei Double Tap apliquei projéteis de. 40 Foi quanto eu notei que ameaça eu cessei Com Cautela aproximei quase que meu peito não aguenta As vezes os Deuses brincam com o destino Fui Anjo e Ceifeiro na história de um menino Todo ensanguentado levou um tiro na barriga Na moral lembrei que cortei seu umbilical Te olhei perdendo a vida numa esquina conhecida Coincidência machadista literária Nacional Ouvi uma voz enraivecida uma mulher desgovernada Contida no isolamento, lágrimas, sofrimento Gritou que era mãe do jovem que ali jazia Que sabia que o algoz era o sargento de Nascimento Quando Ivone me viu um sorriso quase abriu Bem depois se esvaiu quando resolveu a charada O Sargento que ali estava era quem a pouco ceifava A vida do Marcone filho que ela tanto amava E eu tentando entender esses laços do destino Findei o mesmo menino que assisti no nascimento Anjo ou Ceifeiro eu não sei qual é meu norte Descobri que carrego o poder da vida e da morte Nas Mãos