Quando grita a curucaca no mais alto dos pinheiros Desperta o galpão inteiro chama o serrano pra lida Reacende a brasa dormida batendo cinza e tição Cambona pra o chimarrão, pra madrugada comprida Lá fora a vida se acorda num cinzento amanhecer Que o inverno veio tecer na serração da alvorada Coxilha, várzea e canhada tapadas num pala branco Combrindo o lombo do campo na seda fina da geada O serrano ceva sua alma na comunhão das mateadas Pra horizontes e jornadas e as lidas que o dia proclama O frio que a aurora derrama e os guascaços do minuano Forjam o cerne serrano no inverno das madrugadas Bortando o pano do campo, alinhavando os capões Os palanques e moerões de cernes endurecidos Fantasmas adormecidos eternizados guardiões Posteiros das divisões do alambrado torcido Um baio da cor da lua que se confunde na geada E uma tropilha extraviada já vem pontilhando o cerro Lamentos de algum terneiro chorando a dura invernia E um galo cantando o dia solista no seu puleiro