Quem atira a flor sublime Na putrefação do mangue Não deixa manchas de sangue Mas deixa sinais do crime Na repressão do regime Vandré conseguiu propor Encher seus canhões de amor E mirar cem pétalas nas massas Saiu cantando nas praças A inocência da flor. Flor de inverno ou primavera Exibe em seu espetáculo Pendulo receptáculo Cepla cartel antera Se aquece se refrigera Pra não ficar incolor E é constituída por Pistilo, estangue e estigma E a fragrância é o enigma A inocência da flor. Uma da outra é distinta E tem um aroma pra cada Dá pra ver que ela é pintada Só não dá pra ver quem pinta Quem terá dosado a tinta Pra ficar daquela cor E ela devolve odor E o gás carbono que aspira Só quem botou é quem tira A inocência da flor. Entre pedra desabrocha Sem ter mãos com que se pegue E a natureza consegue Fecundar vidas na rocha O sol acerta de tocha A brisa dar-lhe o frescor O caule ao se recompor Põe outro embrião no ventre Não tem pecado que entre A inocência da flor. Pra fecundação ser tida O pólen está sempre anexo Como a gente a flor tem sexo Sensibilidade e vida A planta quando engravida O parto é feito sem dor Deus é o único doutor Na UTI do jardim Que assiste começo e fim Da inocência da flor. Só sendo mesmo um herege Que uma flor do galho arranca O orvalho a deixa branca A poeira a torna bege O invólucro que a protege Contra frieza e calor Fecha ao sol se por E abre quando o dia vem Nem mesmo a criança tem A inocência da flor. As inflorescências dão Formas mutáveis de vida Ao antúrio e margarida Salsa e dente de leão As hermafroditas são De espécie superior Porque alterna o olor E só elas tem os dois sexos Deixando os homens perplexos Com a inocência da flor. Na clinica da aquarela Nasce a rosa grácil e doce E é como se o botão fosse A incubadora dela Enfeita altar de capela Caixão de anjo e andor E o néctar adoça o sabor Do mel que a abelha faz E os espinhos são rivais Da inocência da flor. No vaso recipiente Agrega-se o nectário E o fruto vem do ovário A botânica não desmente Do óvulo nasce a semente Sem nenhum mediador E o colibri beijado De graminha hiberda e goivo Se apresente como noivo Da inocência da flor.