Sou tão resistente quanto a caatinga, Sem água no tronco e sem folhas no pé, Quando a estação da seca se vinga, Perco até o sono mais não perco a fé. Observo a barra do ano e procuro, Um sinal de chuva trazido por ela, Mas quando não vejo nada de futuro, A minha esperança tem receio dela. Aceitar esmola não é meu desejo, É um desacato a minha coragem, Já me orgulhei tanto de ser sertanejo, Pois tenho tenho vergonha de ter esta imagem. Feito o juazeiro sou esperançoso, Que mesmo na seca sombreia os caminhos, Como o chique-chique não sou espinhoso, Mas na minha vida também tem espinhos. Minha qualidade de vida não tem, O minimo possivel de dignidade, Quando me perguntam se está tudo bem, Respondo que sim mas não é verdade. É triste no campo ver os urubus, Agorando a morte dos meus animais, E eu não ter ninguém que mostre a jesus, Esta umilhação que a seca me faz. Sou profeta agrônomo sem nenhum estudo, Aprendi na prática com a natureza, De terra e de planta eu entendo tudo, Não sei por que falta comida na mesa. Sou acostumado dormir com a lua, E acordar com os passaros fazendo cantiga, Eu prefiro o sitio a morar na rua, Enchendo a favela e secando a barriga. (refrão 2x) Vendo os vales secos e o nascente azul, Que governo é esse do país e celeste, Esses presidentes do céu e do sul, Não são solidários na dor do nordeste.