O céu foi escurecendo, pé de vento se formando Desci a serra a galope e a todos fui avisando Quando o pé de vento forma a correria começa Quem tem fé já vai rezando e todo mundo tem pressa Tudo que é vivo se esconde, tudo que é leve se pega A roupa sai do varal senão o vento carrega Toda a passarada some e a luz do sol sossega Quem vê o temporal formando, sabe do que estou falando Assina embaixo e não nega Bem lá do alto da serra se vê a mata abrindo A curva do estradão o poeirão vai subindo Ele passa assobiando todo mundo se apavora Vai faltando ar la dentro e vai soprando o ar lá fora Ele passa em rodopio, ligeiro e desenfreado Não tem dia e não tem noite, não tem certo nem errado Não respeita velho ou novo, nem solteiro, nem casado Passa com total frieza O vento por natureza é muito mal educado Todo mundo sai de casa depois que o vento passa Vem analisar a sobra da sua obra devassa Tem muita cerca caída, muita casa sem telhado Tem coisas na nossa roça, que é de outro povoado Muita janela quebrada, sofreu toda a plantação Tocos para arrancar, muitas árvores no chão O cata-vento foi embora, sumiu na imensidão Todo mundo aborrecido! Eu me sinto agradecido por estar com os pés no chão.