Amigo quem vai, leva a dor ao sair Amigo quem fica, vê o pranto cair Juntei a esperança e fiz minha trouxa Montei na coragem, e no mundo eu parti Em terra de estranho, pisei devagar Na cama da noite, cochilei sem piscar Com os meus irmãos, e um passado vivido Na bruaca de couro, que eu deixei escondido Guardei com carinho, no sóter do galpão Meu pouco tesouro que deixei no sertão Se um dia quiser conhecer Ta lá em Barretos, no museu do peão Meu bornal de tralha, e um velho cuitelo Lamparina de lata, o serrote e o martelo Um arco de pua, relepa e a enxó Bodoque, peteca, pena de socó Tem foice, facão, tem machado, que dó! Tem grosa e linhada cheinha de nó Tem um porvarim que é uma relíquia Meu pai que usava, caçando o jaó O meu peitoral de argola, o freio de cabeção A minha sela casquin, e a espora de cachorrão Cangaia e pinhola trançada, e junto um rabicho torcido Um tacho de cobre batido, que a mamãe fazia requeijão Um pio em forma de T, e o meu canivete corneta Um chicote de couro de anta, e a garrucha da mira bem preta Uma chaleirinha amassada, minha canequinha de esmalte A fisga e um ferro de brasa, a suvela e um velho alicate E sem muito a gente esperar, a nossa velhice vem Você que deixou sua roça, e veio morar na cidade Hoje, já com mais idade, tu sentes saudades também Desse jeito que foi meu passado Os meus cacos, ficarão guardados É assim que corre o tempo, nessas coisas que eu invento Minha infância ainda mora aqui Está viva dentro de mim No museu do meu pensamento