No tempo em que fui boiadeiro Só saía bem de madrugada Num dia bem de tardezinha Precisei fazer uma parada Bem longe naqueles sertões Na pensão da beira da estrada Pedi pouso, também uma janta Pra tirar o pó da garganta Tomei uma pinga bem caprichada. Quando entrei naquele recinto Muitos quadros ali pendurados Eram coisas de antigamente Só relíquias do nosso passado O que mais me chamou atenção Foi das cores que eram pintados Tudo feito de um modo caipira Uma rede toda de embira Feito a mão no estilo trançado. Logo vi um couro de mateiro Uma baldrana branca de vaqueta Um arreio de porta capela Uma espingarda velha de espoleta Um pelego de lã de carneiro E uma rédea de seda bem feita Um berrante todo empoeirado Que trazia as marcas do passado De chamar os peões pra fazer a colheita. Tudo aquilo era curiosidade Me chamava atenção no que eu via Um facão marca jacaré Que até no escuro reluzia E olhando naqueles pertences Vi um quadro de fotografia No momento a surpresa foi tanta Deu um nó na minha garganta Eu vi minha foto com minha família. Perguntei para aquele garçom Prontamente ele me respondeu Esta foto é de uma família Nesta casa um dia viveu Este quadro ficou de lembrança Se chegar aqui um filho seu Respondi com grande alegria Eu estou nesta fotografia E aquele menino da foto sou eu.