Amanhecendo, eu era igual à viuvinha Um passarinho que é o primeiro a cantar Se o sol Rosea riscos e rabiscos lá no mar E eu ficava admirando Ana sonhar Água fervendo, feito o café na cozinha Eu, de mansinho, erguia a ponta do lençol E o riso dela clareava à vera o dia No olhar dizia, boa hora pra se amar Aos olhos dela fui Do Rei Artur o mais real dos cavaleiros Ela ao meu lado, foi De um Dom Quixote o mais leal dos escudeiros Nem poderia imaginar Que essa história fosse um dia se acabar Vida escorrendo Pro mistério foi-se Aninha Lá na cozinha, pôs-se a água a esfriar Sem o seu riso, o sol nasce, mas não brilha E a viuvinha não tem mais porque cantar Me corroendo A saudade espezinha Cortando fundo, retalhando até sangrar Depois dá um tempo Guarda a faca na bainha Mas volta e meia Volta logo a recortar É quando a tarde cai Que ela se assanha e crava os dentes no meu peito E tal estrago faz que para suportar a dor só há um jeito Pego a viola, busco um lugar E no seu braço eu me apoio pra chorar