Hoje eu acordei discriminado Hoje eu acordei desacreditado Hoje eu acordei desrespeitado Hoje eu acordei mulher Hoje eu acordei iluminado Hoje eu acordei do lado errado Hoje eu acordei estereotipado Hoje eu acordei mulher Ouvindo india.arie, prestando atenção nos detalhes Pedindo a oxum que a minha intuição nunca falhe Sofrendo na boca dos rappers e pagodeiros Levando regulagem de marido cachaceiro Filho da fruta descascada entregue na bandeja A puta pelada num comercial de cerveja Piranha num rio onde o homem é sempre o boi Pilantra que esquece que filho se faz com dois Metralhada, cachorra, piriguete descarada. Sentada a mãe que fica em casa sem fazer nada Assim é retratada e idealizada Dupla ou tripla jornada não recompensada Boa era amélia que achava bonito ser humilhada Gilcélia se ouvisse isso me dava porrada Acha que é feita sempre pra ceder, se entregar A roupa que o homem quer ver sempre incomoda pra usar Não leva a sério o que eu falo, só porque eu não tenho falo Mesmo assim não me calo, o pinto não canta de galo Nem pense em me escravizar, você tá fora de moda Não parto, porque a dor do parto é sempre foda Roupa pra lavar, feijão pra cozinhar Menino pra cuidar, mas sei que eu consigo Não quero ser vulgar, nem escrava do lar Só quero aguçar o meu sexto sentido A bela fera-ferida que se faz presente Sente que em seu corpo e mente há algo diferente Percebe uma voz que vem do seu coração Que diz que quem educa uma mulher educa uma nação Quem dera saber que aconteceu com você A sua yabá de frente nesse amanhecer Queria que você soubesse, então como é que é Ao menos um dia ter que acordar mulher Recusar aparecer pelada pra vender produto Saber que está propícia a ser vítima de estupro Tudo isso e mais um pouco a sociedade ataca Chama de piriguete, cachorra, galinha, vaca Tem gente que não saca que isso me afeta Tem macho que só quer a fêmea de perna aberta Me submeter a submissão isso eu não faço Só pra lembrar: hoje não é 8 de março Bonita como um cabelo crespo bem trançado Arisca como qualquer bicho que é maltratado Sempre comparada às coisas inúteis Incentivada a fazer os papéis mais fúteis Televisão nem se fala, já é piada Sempre empregada ou escrava, a mesma palhaçada O mundo muda, mas cabeça de homem é sempre de pedra Quando junta numa rodinha então... só rola merda Estufa o peito pra dizer que fez, que aconteceu. No meio dos seus arrotar o que não comeu Faz bem pro ego, um mentiroso é poucas vezes pego Porque se sente um prego toda vez que eu me nego E carrego o mundo na barriga e o pé inchado Não durmo enquanto você vira pro outro lado Não adianta olhar demais e não prestar atenção Malhar os peitorais e não fortalecer o coração Lutar pra ser guerreira e não santificada A mãe de quem matou zeferina não é culpada Beleza e inteligência ainda não são suficientes Firmeza! As yabás vão estar sempre com a gente